sexta-feira, 1 de março de 2013

Parte daquilo que sou hoje (resumido)

Desde que nascemos que exigem sempre mais de nós do que deveria ser esperado. Um dos temas/perguntas que começamos a ouvir assim que aparecemos na primeira ecografia é: "O que é que queres ser quando fores grande?". É uma pergunta que à medida que vamos crescendo vai tomando uma conotação cada vez mais pesada, cada vez mais importante. Há pais (tenho um caso muito próximo na familia, a quem chamo de Daddy) que levam a pergunta muito a sério mas ainda mais as respostas.

Desde que me lembro já quis ter quase todas as profissões. Entre os 4 e os 5 anos queria ser professora, cabeleireira e veterinária. Aos 6 quis ser cantora (lembram-se do post do cd da Daniela Mercury?). Aos 8 voltei a querer ser professora. Foi um desejo tão forte que me juntei a uma amiguinha, pegá-mos em giz e fomos escrever contas na parede da escola. O desejo passou quando 15 minutos depois a sra. "contina" me foi chamar à sala e me obrigou a limpar a parede. Acho que esse trauma me apagou desejos de profissões durante uns anos porque salto agora para os 13 anos. Em que decidi que ia ser educadora de infância. Outra vez tive um desejo tão forte que fui ao jardim infantil da terrinha pedir emprego. Ao que amavelmente me disseram "neste momento não precisamos de ninguém...".

Depois comecei a beijar rapazes e esqueci-me das profissões. Depois pus aparelho e (coincidentemente, claro)  voltei a ter tempo para pensar em profissões.

Aos 14 disse que o meu sonho era ser pasteleira. O meu pai torceu o nariz mas aceitou. Mas os meus pais têm um defeito terrível que é "inicias um tema levas com ele até à exaustão". O que levou a que falassem com um amigo de uns amigos para me levar à fabrica de doces regionais da qual ele era dono, para ver o quão difícil fixe era. Desisti porque não gosto que me macem continuamente com uma assunto. Disse simplesmente que ainda tinha tempo para pensar.

Aos 15, quando passei para o 10º ano, escolhi ciências apesar de ter feito um daqueles testes de aptidões ou lá o que é e me ter dado claramente e com muita vantagem Artes. O que eu queria mesmo, mesmo, mesmo era... ser bióloga marinha. Nadar e fazer festas com os golfinhos (só, porque era mesmo isso que se resumia a minha definição de "bióloga marinha"). Claro que quando temos 15 anos e passamos para o secundário as coisas tornam-se mais sérias do que quando se tinha 5 anos. E o meu pai levou isso muito a sério.

Aos 16, a meio do segundo período do 11º ano comecei a pensar que para nadar e fazer festas aos golfinhos podia pagar 120€ (na altura, nem quero saber quanto será agora) e ir ao Zoomarine. Portanto, será que eu estava mesmo a seguir bem? Ciências, eu que sou um zero a matemática, física-química... Toca a fazer outro teste de aptidão. Que por acaso e com grande vantagem dá... artes! Espantem-se! E o que é que eu decidi? Voltava ao 10º ano, estudava artes e depois logo "enveredava" por um caminho mais propício à minha pessoa. Fui linchada. "Aiii que agora vais mudar! Quase no fim!! E vais desperdiçar dois anos!!". Foi o Daddy e foi a "minha melhor amiga". Aquela que me dizia a gozar e com desdém que os psicólogos só servem para os meninos betinhos e fraquinhos que não sabem resolver os seus problemas sozinhos. Puta.

Continuei em ciências. Não gosto de ferir susceptibilidades. Cheguei ao 12º com 8 a matemática e 8 a física-química (e a vontade de escrever fisicóquimica?). Disse que não ia fazer matemática nesse ano, ia descansar essa disciplina e concentrar-me noutras como a tal F-Q, a biologia que eu até gostava (quando se tem bons professores é impossível não se gostar de determinadas disciplinas), português (o medo, o horror, a tragédia por causa dos exames). Acabei o 12º com 3 a F-Q, 15 a biologia, 13 a Português e boas notas no resto das disciplinas. Implorei aos meus pais para me deixarem vir para Lisboa estudar matemática. É aqui que mora a "minha melhor amiga" - puta. - e a minha vida dependia disso. E porque o que eu queria mesmo, mesmo, mesmo ser era... cozinheira! E como até há uma escola muito boa aqui (AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA - é uma private joke entre mim e os dois últimos anos da minha vida) era já caminho andado para me mudar para cá. Eu morria se não viesse. E os meus pais - os pais mais fixes do mundo - deixaram. Vim morar sozinha aos 17 anos. Inscrevi-me em matemática e F-Q. Eu tinha que fazer estas duas merdas nem que Cristo viesse à terra e me quisesse para santa. F-Q foi um calo. Como os exames de entrada na escola de cozinha eram biologia, F-Q ou economia, pensei "bem, 'bora lá dar-lhe na economia". Estudei em casa, duas semanas antes do exame. Nunca fui a nenhuma aula. Nunca tive explicador. Saí do exame com 15. Matemática? Chumbei.

Voltei para a terrinha. Chorei muito. Mas não porque fosse perder muito da minha vida. A "minha melhor amiga" - puta - ia para o 2º ano da faculdade e ia ter ainda menos tempo para mim. O bode com quem andava aos beijinhos tinha-me ligado a dizer que me tinha posto os cornos na noite algarvia. Não, eu não perdia nada em Lisboa. Apenas chorei porque queria já estar na faculdade. Queria mesmo ter passado a matemática. Porque me esforcei, muito mesmo. Gastei mais de 1000€ em explicações (o que vale é que foi para um amigo e ainda levei muitos descontos). Gastei muito tempo, dedicação, empenho. E sabia a matéria.  Mas os azares acontecem.Chorei porque mais uma vez desiludi os meus pais.

Nesse ano na terrinha pouco mudou. Queria ser cozinheira. Queria voltar a morar em Lisboa sozinha. Deixei de falar com a "minha melhor amiga" - puta - e não arranjei enrolanços. Concentrei-me em passar. Passei com 10. Mas passei. Em Julho (espantem-se outra vez) mudei outra vez de sonhos. Porque naquele ano em Lisboa despertaram-me o bicho. E pedi aos meus pais para entrar numa faculdade onde poderia estudar aquilo que ia mesmo ser a minha "profissão". Não podia. Porque o que eu queria, segundo eles, era ser cozinheira. E era cozinheira que ia ser. No dia das candidaturas pensei muito. Pensei "E se....". Mas não fiz o "se". Inscrevi-me na faculdade de hotelaria. Apenas com duas opções. Dia ou noite. Rezei. Rezei muito, pedi a Deus que não me deixasse entrar. Que não tivesse média. Ou vagas. Deus não existe.

Entrei. Conheci o homem da minha vida. Vim para Lisboa. Com o sonho partido fui estudar para vir a ser chef. Desde Novembro que desisti da faculdade. Odiei todos os dias da minha vida por ter entrado naquela faculdade. Odiei não ter clicado naquela área que eu queria. Adoeci. Muito. Fisica e mentalmente. E chorei, muito. Porque tinha, mais cedo ou mais tarde, que contar aos meus pais. E desiludi-los. Outra vez. Fi-los gastar dinheiro em vão.

Já contei.

Hoje estou em Lisboa à procura de trabalho. Como se isso fosse possível. Hoje não tenho sonhos. Hoje quando me perguntam "o que é que queres ser?" eu apenas respondo "quero trabalhar".

Hoje quero-me ir embora, quero abrir um negócio num país qualquer. Numa ilha cheia de sol. Podia abrir um bar e vender boas caipiriñas. E tostas. E sumos. E batidos. E gelados. Os melhores do mundo. Mas não posso. Tenho um homem comigo e não tenho dinheiro. Não posso arriscar. Não tenho hipóteses neste país nem fora dele. E por isso penso "então afinal qual é o sentido da vida?". "Afinal o que é que estamos aqui a fazer?". "Porque é que (sobre)vivemos?"

Se souberem a resposta avisem. Ou se souberem de um trabalhinho avisem também.

6 comentários:

Tal mãe, tal filha disse...

Gostei muito da forma como nos contas-te um bocadinho de ti. Fez-me pensar que devemos realmente pensar muito bem antes de tomar uma decisão. Eu no ano passado (passagem do 9º para o 10º ano)escolhi ciências tal como tu, detestei ! Fisico-quimica não é para mim... Estou a repetir o ano em economia e estou a gostar muito :)

Beijinhos/ A Filha

Anónimo disse...

Realmente cada um tem a sua história e cada decisão nossa tem as suas consequências. Mas não se recrimine, quem lhe diz que se tivesse feito uma opção diferente estava agora melhor?? Claro que achamos sempre que sim. Ao contrário do que contou no seu post quando chegou a hora de ir para a faculdade optei pelo curso que mais gostava.Entrei , fiz licenciatura trabalhei alguns anos, fiz mestrado investi muito tempo e dinheiro para agora estar em casa. Todos os dias penso nos anos que me matei a estudar e no dinheiro que gastei para agora não ter perspectivas .Bjs e muito ânimo.

Cláudia disse...

Olha, também gostei da maneira como contaste as coisas e estou como o anónimo: se tivesses feito outra opção, será que estarias de maneira diferente?

Mas sabes, a vida é mesmo isso.
E temos que errar para aprendermos.

Mas falas como se já tivesses desistido e assim não pode ser. Cabeça levantada que vais ver que as coisas vão melhorar.

Eu no 10º, segui aquilo que tinha mesmo que seguir: Humanidades.
Mas o curso que tirei na faculdade não era bem o que eu queria.
E aqui vês, tirei um curso, que apesar de não ser bem bem o que quero, está lá próximo, mas trabalho que é bom, nada =S

Mas percebo bem pelo que estás a passar, afinal de contas, estou +/- na mesma situação.

E não penses que desiludiste os teus pais. Se fosses mosca, de certeza que ias ouvir eles a dizerem que têm muito orgulho em ti.

Beijocas

Anónimo disse...

Olá,

O que é necessário é pensamento positivo (por muito que custe, eu não entrei na Universidade quando acabei o 12º apesar de ter feito aquilo que queria e para o que "tinha jeito".

Arranjei trabalho, que felizmente ainda tenho.

12 anos depois de saír do liceu entrei na Universidade não naquilo que queria incialmente mas, que devido ao trabalho que tenho passei a gostar.

Por isso, acredito melhores dias virão não deve é desanimar e entregar-se ao desânimo, porque tudo se resolve e o tempo tudo "cura".
força

PINTA ROXA disse...

Em miuda tambem sonhava ser professora e cantora, depois queria ir para um colégio interno e só vir a casa nas férias, "assim não estava com o meu pai", depois achei que era melhor arranjar emprego sair de casa morar com uma amiga e estudar....
aos 17 anos disseram-me que estava na hora de casar chumbei esse ano "até porque as Mulheres foram feitas para estar na cozinha não a estudar.." para serem lá o que quiserem...
E lá entrei eu na igreja e lá vivi 9 anos em "coma casamenteira"
Desses 9 anos só me restou a Finalista.
Não acabei o 9º...não morei com uma amiga nem escolhi uma profissão.
A Vida levou-me até este emprego que tenho há 20 anos, Administrativa.
Ao meu lado tenho colegas que são Advogadas, Técnicas de "não me lembro agora" empregadas de balção, etc e todas recebemos o mesmo, muito mas muito pouco.
Umas estudaram muito outras como eu fizerem outras coisas, por isso já não sei se vale a pena tantos anos na escola para se tirar um curso.
A finalista teve a sorte de acabar com uma boa média e arranjou logo trabalho é Educadora de infância e faz o que escolheu, ganha mal, menos 40€ que eu.
Eu não desisto da vida, se tiver de ir limpar escadas vou " e ganhava mais do que aqui acredita.."
Tenho uma colega de trabalho que tem 43 anos e não consegue sair de casa dos pais, como já disse ganha o mesmo que eu ganho, eu tenho uma filha e uma casa..
Por isso penso que somos nós que temos de ter força e acreditar que somos capazes. A vida passa a correr temos de aproveita-la..
Beijos

Pi Maria disse...

Bem só para não te sentires sozinha, eu já sou licenciada e não sei o que raio fazer com a minha vida. Não gosto do curso que tirei (acho que sinceramente nunca gostei, foi mesmo só para fazer a vontade aos meus pais) e ando por aqui meia perdida. Pelo caminho sempre vou fazendo mestrado e tentando encontrar um rumo xD
Beijinhos e força aí :D