terça-feira, 2 de agosto de 2016

Da Vida real

Eu queixo-me muito. Queixo-me que está frio,  que está calor,  que é noite, que é dia. Queixo-me que trabalho muito, ganho pouco e ninguém me reconhece como mereço. Sou uma mártire. Uma mártire dos queixumes.

E depois aparece-me uma cliente,  daquelas desde sempre,  desde que eu ainda nem eatava na loja. Uma cliente cujo neto, miúdo pequeno está a batalhar contra um cancro. Uma cliente cuja mãe, que a acompanhava muitas vezes às compras, mesmo já estando perto dos 90,  caiu e partiu a anca e não consegue andar. Uma cliente cuja vivacidade se perdeu em menos de um ano. Ficou com o cabelo todo branco. Está tão magra que a pele está quase transparente. Uma cliente que à minha frente estava a ter tonturas,  com vontade de chorar mas mesmo assim fazia uma força hercúlea para sorrir e disse-me com toda a força do Mundo "Eu tenho que acreditar,  eu QUERO acreditar, EU VOU CONSEGUIR".

E eu sinto-me uma merda. Uma mártire queixosa da feira. Porque não tenho nada de que me queixar. É verdade que ando cansada. É verdade que onde tinha olhos,  agora tenho dois buracos negros. Mas nada mais. Não tenho problemas a sério. Tenho os meus problemas, as minhas dores,  as minhas preocupações, mas há quem,  infelizmente,  esteja bem pior.